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segunda-feira, 27 de junho de 2011

quinta-feira, 1 de julho de 2010

III

    O segundo acontecimento foi na quarta série, aos oito anos de idade. O orçamento familiar aumentou com a Ana na família, é complicado cuidar de um bebê, ainda mais quando a mãe o mima o suficiente para exigir que tudo que for comprado para ele seja do bom e do melhor... e consequentemente: mais caro. Eu era uma ótima aluna, ótima mesmo: melhores notas, desenvolvimento excepcional, aluna mais nova da turma, ótimo relacionamento com todos os colegas e um amor indescritível pela escola. Não quero ser modesta, mas eu tinha uma ótima chance de passar em primeiro lugar em qualquer vestibular de medicina ou direito. E eu perdi tudo. Não acho que seja desculpa para se tornar um aluno meio ruim, mas foi exatamente isso que me fez piorar na escola: Eu fui pra uma escola pública, mas não qualquer escola pública, a pior escola pública da cidade. Havia gente de todas as idades, tamanhos, de todos os lugares, gente que eu nunca havia convivido antes, gente estranha e completamente fora da minha realidade. E eu me vi sozinha mais uma vez. Sozinha e com medo.

    Eu tive duas amigas nesse período, com certeza não se lembram mais de mim, mas para mim foram marcantes e importantes o suficiente para se tornarem eternas. E logo eu mudei de escola. Voltei para a antiga, com todos os meus colegas e uma nova professora que também era uma pessoa incrível. Havia mais um ou dois coleguinhas, mas nada preocupante. O problema é que o medo continuava ali, eu sabia o que era estar em meio à tantas pessoas estranhas que não se consegue nem contar. Eu sabia porque aquele medo continuou vivendo dentro de mim.


***


    O terceiro e último pontapé foi o mais devastador, o mais cruel, horrível e transformador. Por favor não achem que é da natureza dela ser assim, na verdade, ela causa uma reação diferente em cada pessoa. Para mim ela causou muitas coisas ruins, me fez cometer erros terríveis e me fez chorar por várias noites à fio. Mas também me ensinou. Me ensinou tantas coisas que fica difícil enumerar todas, mas eu vou sim, vai demorar um pouquinho mas eu vou explicar uma por uma. Ah, quem é ela? É a internet.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Dois

Ela tinha os lábios trêmulos e os olhos piscavam várias vezes para tentar se certificar de que aquilo era real, tentar descobrir que era tudo um sonho, um péssimo sonho... na verdade, um pesadelo. Ele tinha o olhar firme, algumas lágrimas insistiam em sair de seus olhos, mas o orgulho era mais forte, o orgulho prendia tudo em sua garganta. As palavras que saíram foram poucas, mas foram suficientes para destruir qualquer tipo de esperança que ela tinha de começar tudo de novo. "Somos apenas amigos, agora." Você já sentiu uma faca cortando a sua garganta lentamente? Era essa a sensação que ela tinha. A dor era tão intensa que ela desejava a morte, até a morte era melhor do que aquela ferida, aquele buraco, aquele 'sem ele'. Mas ela não morria. Vegetar, era tudo que ela conseguia fazer, se arrastar como uma planta trepadeira sem nenhuma outra planta para se apoiar. Era como procurar um dos extremos, mas continuar sempre presa naquela merda de equilíbrio. E durante meses ela continuou com aquela ferida, continuou sentindo o corte, continuou sangrando amor. Algumas vezes se pegava sorrindo. Lembrava-se de como ele sorria bonito, lembrava-se das guerras de travesseiro que ele sempre ganhava, lembrava-se do calor de seus braços a envolvendo fortemente... Mas logo as lágrimas escorriam. Escorriam porque ela sabia que havia outra que estava aproveitando a pessoa mais perfeita do mundo, as lágrimas superavam o orgulho porque a dor era algo completamente real. E aí, quando ela se acalmava, ela se entregava ao sono. E sonhava com ele.
- Eu estou aqui... tenshi. - ele murmurou, a abraçando com toda sua força. E ela chorou em seus braços, fechou os olhos com toda força e encheu a camisa dele de lágrimas, deixou o sangue da ferida escorrer livremente. E de repente ela abriu os olhos. O sangue estava por toda a parte, estava nele, estava no pijama dela. Estava nas paredes e no chão. Havia sangue em toda parte. Sangue dos dois. Os olhos se abriram desesperados e o suor fazia de sua testa um rio. Foi apenas um pesadelo. Ou teria sido um sonho bom?... Sua rotina continuou a mesma. A má vontade de ir à escola, as crises existenciais e todas essas merdas que sua mãe acreditava serem da adolescencia continuavam da mesma forma. Só que agora ela sorria por alguns segundos à mais do que antes, ela sorria por ter conhecido um anjo, e por ter possuido ele algum dia. Alguns dizem que o tempo cura todas as feridas, outros dizem que não vale à pena amar... Mas aquela garota, aquela que foi torturada pela decepção por meses, ela não acredita nessas baboseiras. O tempo veio, veio e foi embora tantas vezes que ela não pôde contar. Ela evitou se apaixonar outras vezes, evitou tanto que criou um muro ao redor de si. Mas um dia veio outro anjo, com outro nome, e com outros dons. Veio outro anjo e ela conseguiu ver. O tempo não cura as feridas e vale à pena SIM amar e se magoar. Tudo vale à pena se for pela felicidade. Ela nunca deixou de amá-lo, nunca deixou se sentir falta daquele anjo maravilhoso e cheio de qualidades e defeitos incríveis, mas ela descobriu que tudo depende dela. E ela conseguiu entender que é o amor! É, só o amor cura, só o amor renova, só o amor faz crescer. Só o amor move o mundo. Aquele primeiro anjo continuou sendo especial, continuou sendo único. E ela continuou caminhando sempre em frente e carregando aqueles amores incríveis nas costas. Se arriscar vale à pena. E sua maior história de amor é consigo mesma. Quando você ama aquilo fica marcado pela eternidade em vocês dois, e nenhum outro amor ou nenhuma decepção apaga isso.

quarta-feira, 17 de março de 2010

II

Mas não foi aí que começou, bom, esse foi o primeiro pontapé inicial para todos os outros acontecimentos, uma chuva de coisas novas, algumas boas e algumas ruins. Acho que não vou classificá-las, nem eu sei exatamente como. Não estou dizendo que tudo que me aconteceu foi culpa da minha irmã. Mas pelo menos metade do que eu desenvolvi foi porque ela entrou no meu lugar. Dizem que coração de mãe sempre cabe mais um... vai lá dizer isso à um pobre filho mais velho. Não estou fazendo drama, pelo contrário, foi de certo modo 'bom' ela ter tirado a maior atenção de mim. Menos drama. Não, eu não disse que evitou o drama, só disse que diminuiu. Porque o maldito continuou lá, ele e um outro individuo traiçoeiro, o preconceito. Conhece uma família dividida? Pois é, meus pais são assim. No começo era tudo perfeito, mas até eu comecei a ver os podres, e eram tantos que eu não consegui ignorar. E eu carreguei tudo nas costas, toda aquela carga horrorosa e doentia.

Eu tentei me incluir na vida da minha irmã, no começo eu amei ela, amei com todo o coração, eu juro. Mas minha mãe me afastou dela, minha mãe e meu pai. Era como se tivessem medo de eu estar tramando um plano diabólico. E eu definitivamente passei a ter certo ódio por aquela droga de bebê que me roubou meus pais, minha perfeição, meus parentes, minha atenção e toda a minha vida. Mas eu aprendi, de certo modo, com isso. Eu comecei a caminhar por mim mesma, já que não havia mais ninguém que se interessasse em ver meus passos.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Um.

Ninguém vai sentir sua dor, ninguém vai te sustentar, ninguém vai fazer isso por você. Não adianta ter pena, não adianta ficar chorando e reclamando pelos cantos. Temos que ser fortes. Fortes mesmo, temos que nos orgulhar das conquistas, andar de cabeça erguida, ignorar a dor, segurar firme na esperança e não deixar de vigiar. Não deixar jamais de seguir os passos certos. Ter ataques extremos e se sentir culpada depois não faz diferença nenhuma, chorar rios e oceanos por ter feito besteira não te ajuda a chegar a lugar algum. Dizer que 'tomara' ou 'talvez' nós consigamos não vai fazer isso acontecer. Tudo depende de você, tudo depende da sua força. Só os fortes sobrevivem... e você é forte, não é?

domingo, 14 de março de 2010

I

Tudo começou aos dez anos, bom, não me lembro bem, talvez tenha sido aos nove ou aos onze. O que realmente interessa é que começou por aí, nessa fase maldita que chamam de pré-adolescência, e eu chamo de entrada para o inferno. Não vou dizer que tudo começou quando eu nasci, é clichê demais e é mentira. Quando eu nasci tudo era um mar de rosas, sabe como é: filha única, família evangélica de classe média, tudo pronto para ser perfeito e organizado. Pena que nem sempre o que está planejado é o que acontece, não é? Mas talvez não seja uma pena tão grande assim...

Não me lembro muito bem, faz tantos anos... Mas ainda está gravado na memória. Era uma tarde ensolarada, eu estava na escola - na época tudo perfeito, escola particular, sala com as paredes perfeitamente pintadas e cartazes com letras, poemas e desenhos espalhados pela parede do fundo. Quadro à pincel, janela para uma das principais ruas da cidade, ventiladores ótimos e 9 coleguinhas felizes e legais. Sem contar a professora que era um anjo em forma de gente. - mas algo de diferente aconteceu naquele dia. Eu não fui embora pra casa com o papai depois da aula. A aula acabou e não havia papai, não havia mamãe e não havia casa. Naquele dia houve um hospital, um hospital e um incidente que mudou pra sempre a minha vida perfeita.

Foi tudo muito rápido, eu abri os olhos e boom! Hospital. Mamãe me dizia que era o hospital onde eu havia nascido, eu gostava de lá, era bonito, grande e bastante limpo. Eu gostava especialmente do cheiro, o cheiro de que estava tudo na mais perfeita ordem e paz. Mas no quarto da mamãe não havia paz, e muito menos ordem. As pessoas entravam e saiam frenéticamente, algumas mulheres de branco - que eu classifiquei como enfermeiras - tentavam colocar ordem na coisa. E eu me lembro que quando eu cheguei minha surpresa foi imensa. Não havia Bianca naquele lugar. Ah, vou explicar. Ser filha única, ainda mais quando se é lindinha e meiga é um privilégio deslumbrante, sabe? Toda a atenção é voltada para você, os presentes, os elogios, o carinho... E eu estava super acostumada a ser o centro. Mas naquele dia eu descobri que eu não era mais nada. Havia a mamãe deitada na cama, e ela sorria, não para mim, ela sorria para o bebê. É, havia um bebê em um berço estranho, na ponta da cama da mamãe, havia o papai sentado na outra cama, completamente vidrado naquele mesmo bebê, e haviam todos os meus amores, todos os meus tios e tias, e primos e primas... todos, todos eles olhavam para o bebê. E foi aí que eu descobri: eu estava sozinha. Isso foi aos sete anos de idade.